Em 2018, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desencadeou uma das maiores disputas comerciais das últimas décadas. Com o lema “America First”(América Primeiro), Trump iniciou uma escalada de tarifas sobre produtos importados, especialmente da China. A medida, que ficou conhecida como tarifaço de Trump, tinha o objetivo declarado de proteger a indústria americana e reduzir o déficit comercial do país. O resultado, no entanto, foi uma guerra comercial que mexeu com famílias, empresas e a economia global.
O início da guerra comercial
O governo Trump acusava a China de práticas desleais, como subsídios às exportações e barreiras às empresas estrangeiras. Para responder, a Casa Branca impôs tarifas sobre centenas de bilhões de dólares em produtos chineses — que iam de aço e alumínio até itens de tecnologia e bens de consumo.
A reação de Pequim foi imediata: tarifas sobre produtos agrícolas, automóveis e equipamentos industriais vindos dos Estados Unidos. Assim, o que começou como uma pressão estratégica acabou se transformando em uma disputa prolongada entre as duas maiores economias do mundo.
O peso no bolso do consumidor
Um dos efeitos mais visíveis do tarifaço foi sentido pelos consumidores americanos. Produtos do dia a dia, como roupas, móveis, brinquedos e eletrônicos, ficaram mais caros. Pesquisas conduzidas por universidades e pelo próprio Federal Reserve mostraram que o custo das tarifas foi, em grande parte, repassado às famílias.
Estima-se que cada lar americano tenha desembolsado centenas de dólares extras por ano por causa das medidas. Para a classe média, o impacto foi direto no orçamento doméstico.
Empresas entre ganhos e perdas
Se, de um lado, produtores de aço e alumínio comemoraram as tarifas, de outro, setores que dependem desses materiais amargaram prejuízos. A indústria automotiva e a construção civil viram os custos dispararem.
No campo, o golpe foi ainda mais forte. A China, maior compradora da soja americana, reduziu drasticamente suas importações. Agricultores do meio-oeste dos EUA perderam bilhões em receitas, obrigando o governo a liberar pacotes de subsídios para amenizar as perdas. Muitos desses produtores, base eleitoral de Trump, se viram no centro da guerra comercial.
Efeitos na economia global
O tarifaço também teve repercussões além das fronteiras americanas. As cadeias globais de suprimento, que dependem da integração entre diferentes países, foram afetadas. Empresas multinacionais mudaram fábricas para países como Vietnã e México para fugir das tarifas.
O comércio mundial desacelerou, e organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertaram para perdas bilionárias na economia global. Apesar disso, o déficit comercial dos EUA não caiu de forma significativa, contrariando uma das principais promessas do governo Trump.
Reação política e geopolítica
No campo político, a medida dividiu opiniões. Para parte dos eleitores, Trump foi o presidente que finalmente enfrentou a China e defendeu os empregos americanos. Para empresários e agricultores prejudicados, o tarifaço trouxe mais problemas do que soluções.
Já no cenário internacional, a guerra comercial acelerou a busca da China por novos parceiros e fortaleceu relações com países emergentes. O episódio também levantou questionamentos sobre o futuro da globalização e a estabilidade do comércio mundial.
Uma queda de braço controversa
Passados os anos mais intensos do conflito, o tarifaço de Trump deixou um legado de incertezas. O impacto financeiro foi real: consumidores pagaram mais caro, empresas perderam competitividade e a economia global sofreu choques que ainda reverberam.
Para alguns analistas, Trump inaugurou uma nova era de protecionismo estratégico, em que o comércio é usado como arma política, reforçando o notório patriotismo que o povo americano possui. Para outros, o custo superou os benefícios, deixando claro que medidas unilaterais em um mundo interconectado tendem a gerar mais turbulência do que ganhos duradouros, onde uma queda de braço acaba por prejudicar os menos afortunados e quem precisa diretamente de tais produtos.